Sky Chronicles

Local de introspecção de um ser humano igual, mas ao mesmo tempo diferente, de todos os outros. Refugio sagrado de ideias e pensamentos de um alter ego ke dá pelo nome de Skymaze.

domingo, janeiro 13, 2008

A carta que eu nunca escrevi...

Desde o começo não sei quem és, no fundo não te conheço. Se calhar sou o culpado, se calhar até mereço… Quis confiar em ti, mas não deixaste… Não quiseste… Imagino as coisas que tu nunca me disseste. Às vezes queria ser mosca e voar por aí, pousar em ti. Ouvir o que nunca ouvi, ver o que nunca vi nem conheci. Saber se pensas em mim quando não estás comigo. Será que és minha amiga, como eu sou teu amigo? Será que falas mal de mim nas minhas costas? Há coisas em ti que tu não mostras, ou já não gostas. Quantas vezes te pedi para seres sincera, quem me dera. Imagino tanta coisa enquanto estou à tua espera. Apostei tudo que tinha e saí a perder, sem perceber. Surpreendido por quem pensei conhecer. Sem confiança, a relação não resiste, o amor não existe. Quando mentiste, não fiquei zangado, mas triste. A carta que eu nunca te escrevi…
Não peço nada em troca, apenas quero sinceridade. Por mais crua e difícil que seja, venha a verdade! Será que me enganas, será que chamas ao outro o que me chamas? Será que é verdade quando me dizes que me amas? Será que alguém te toca em segredo? Será que é medo? Será que para ti não passo que mais algum brinquedo? Será que exagero? Será que não passa de imaginação? Será que é o meu nome que tens gravado no teu coração, ou não? Eu sou a merda que vês, ao menos sabes quem sou. E sabes que tudo que tenho é tudo aquilo que eu te dou. Nunca te prometi mais do que podia. Prefiro encarar a realidade a viver na fantasia. A carta que eu nunca te escrevi…
A carta que eu nunca te escrevi…
Também te magoei, mas nunca foi essa a intenção E acredita que ver-te infeliz partiu-me o coração. Mas errar é humano e eu dou o braço a torcer. Reconheço os meus erros, sei que já te fiz sofrer. Porque é que não me olhas nos olhos quando pedes perdão? Será que é por saberes que neles vês o reflexo do teu coração? E os olhos não mentem enquanto a boca o faz… E se ainda não me conheces, então nunca conhecerás… Serás capaz de fazer o que te peço? Desculpa-me ser mal educado, quando stresso… Assim me expresso, sofro e praguejo o excesso. Se conseguíssemos dialogar já seria um progresso. A chama enfraquece e está a morrer aos poucos… Porque é que é assim, será que estamos a ficar loucos?
Acho que nunca soubeste o quanto gostei de ti… Esta é a carta que eu nunca te escrevi...


- autor desconhecido -

domingo, maio 13, 2007

O pior ja passou...

"Estamos condenados a sermos nos, so nos, apenas nos. E queremos ser tudo e todos, e o infinito, e Deus.

Um dia e depois outro, uma hora e depois outra, um segundo e depois outro, numa sucessao infinita e indiferente. O espaco pode causar claustrofobia, mas o tempo consegue sufocar uma alma.

Julgo sofrer o suficiente."


- Pedro Paixao in "Quase gosto da vida que tenho" -

domingo, abril 29, 2007

O Boi da Paciência

O Boi da Paciência

Noite dos limites e das esquinas nos ombros
noite por de mais aguentada com filosofia a mais
que faz o boi da paciência aqui?
que fazemos nós aqui?
este espectáculo que não vem anunciado
todos os dias cumprido com as leis do diabo
todos os dias metido pelos olhos adentro
numa evidência que nos cega
até quando?
Era tempo de começar a fazer qualquer coisa
os meus nervos estão presos na encruzilhada
e o meu corpo não é mais que uma cela ambulante
e a minha vida não é mais que um teorema
por demais sabido!

Na pobreza do meu caderno
como inscrever este céu que suspeito
como amortecer um pouco a vertigem desta órbita
e todo o entusiasmo destas mãos de universo
cuja carícia é um deslizarr de estrelas?
Há uma casa que me espera
para uma festa de irmãos
há toda esta noite a negar que me esperam
e estes rostos de insónia
e o martelar opaco num muro de papel
e o arranhar persistente duma pena implacável
e a surpresa subornada pela rotina
e o muro destrutível destruindo as nossas vidas
e o marcar passo à frente deste muro
e a força que fazemos no silêncio para derrubar o muro
até quando? até quando?

Teoricamente livre para navegar entre estrelas
minha vida tem limites assassinos
Supliquei aos meus companheiros.Mas fuzilem-me!
Inventei um deus só para que me matasse
Muralhei-me de amor e o amor desabrigou-me
Escrevi cartas a minha mãe desesperadas
colori mitos e distribuí-me em segredo
e ao fim ao cabo
recomeçar
Mas estou cansado de recomeçar!
Quereria gritar:Dêem árvores para um novo
recomeço!
Aproximem-me a natureza até que a cheire!
Desertem-me este quarto onde me perco!
Deixem-me livre por um momento em qualquer parte
para uma meditação mais natural e fecunda
que me limpe o sangue!
Recomeçar!

Mas originalmente com uma nova respiração
que me limpe o sangue deste polvo de detritos
que eu sinta os pulmões com duas velas pandas
e que eu diga em nome dos mortos e dos vivos
em nome do sofrimento e da felicidade
em nome dos animais e dos utensílios criadores
em nome de todas as vidas sacrificadas
em nome dos sonhos
em nome das colheitas em nome das raízes
em nome dos países em nome das crianças
em nome da paz
que a vida vale a pena que ela é a nossa medida
que a vida é uma vitória que se constrói todos os dias
que o reino da bondade dos olhos dos poetas
vai começar na terra sobre o horror e a miséria
que o nosso coração se deve engrandecer
por ser tamanho de todas as esperanças
e tão claro como os olhos das crianças
e tão pequenino que uma delas possa brincar com ele

Mas o homenzinho diário recomeça
no seu giro de desencontros
A fadiga substituiu-lhe o coração
As cores da inércia giram-lhe nos olhos
Um quarto de aluguer
Como perservar este amor
ostentando-o na sombra
Somos colegas forçados
Os mais simples são os melhores
nos seus limites conservam a humanidade
Mas este sedento lúcido e implacável
familiar do absurdo que o envolve
como uma vida de relógio a funcionar
e um mapa da terra com rios verdadeiros
correndo-lhe na cabeça
como poderá suportar viver na contenção total
na recusa permanente a este absurdo vivo?

Ó boi da paciência que fazes tu aqui?
Quis tornar-te amável ser teu familiar
fabriquei projectos com teus cornos
lambi o teu focinho acariciei-te em vão

A tua marcha lenta enerva-me e satura-me
As constelações são mais rápidas nos céus
a terra gira com um ritmo mais verde que o teu passo
Lá fora os homens caminham realmente
Há tanta coisa que eu ignoro
e é tão irremediável este tempo perdido!
Ó boi da paciência sê meu amigo!

- António Ramos Rosa -